5.1.06

A CULTURA DO PALÁCIO

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10.12.05

15. O Islão na Europa: dos reinos taifa à arte nasrida

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5.12.05

14. O gótico cortesão: as cortes senhoriais como centros de promoção da cultura e das artes

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29.11.05

13. Centros de inovação na pintura: a Flandres


__ Robert Campin (Mestre de Flémalle)

__ Jan van Eyck

__ Jan van Eyck

__ Rogier van der Weyden

__ Rogier van der Weyden

__ Hugo van der Goes

__ Hans Memling

__ Hieronymus Bosch

__ Hieronymus Bosch

__ Hieronymus Bosch
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12. Centros de inovação na pintura: a Itália


__ Bonaventura Berlinghieri

__ Cimabue

__ Duccio di Buoninsegna

__ Giotto

__ Giotto

__ Simone Martini

__ Pietro Lorenzetti

__ Gentile da Fabriano

__ Antonio Pisanello
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22.11.05

11. Presença constante da morte no século XIV: reflexos na cultura e na arte


__ O Triunfo da Morte, pintura de Pieter Bruegel, o Velho, 1562, Madrid, Museo del Prado; embora realizada num período bem posterior ao aqui estudado, esta obra mostra bem o carácter generalizado da morte, que afecta toda a sociedade sem distinções hierárquicas.
__ Cena de enterros colectivos no século XIV, na sequência da deflegração da Peste Negra, segundo iluminura da época.
__ Danças macabras, gravura do Liber Chronicon, de Hartmann Schedel, século XV.

__ A morte armada de gadanha, ceifando as vidas de toda a população; cena de dança macabra em pintura a fresco do Palácio dos Papas, em Avignon, século XIV.
__ Estátuas jacentes nos túmulos de Ricardo Coração de Leão e sua esposa, Isabel de Angoulême, na igreja abacial de Fontevraud, 1200-1260.
__ Arca tumular, e respectiva estátua jacente, do rei Pedro I de Portugal, no Mosteiro de Alcobaça, 1361-1367.
O século XIV europeu foi dominado pela chamada "trilogia negra", ou seja, a actuação conjunta de três factores, fomes, pestes e guerras, que inverteram a tendência de crescimento vinda dos tempos anteriores e provocaram uma taxa de mortalidade elevadissima e a estagnação na economia. De facto, o forte crescimento demográfico dos séculos XII e XIII sofre um retrocesso devido aos maus anos agrícolas no início do XIV, generalizando a fome e a mortalidade; os organismos debilitados pela má nutrição e as condições de higiene da época facilitam a propagação de doenças e a ocorrência de mais mortes. A peste que atingiu a Europa entre 1347 e 1350, embora com diferenças regionais, provocou a morte a mais de 1/3 dos seus habitantes e instalou um clima de desespero colectivo. Quanto às guerras, o panorama europeu é dominado pela "Guerra dos 100 Anos" (1337-1453), entre a França e a Inglaterra, envolvendo depois outros países conforme as alianças em jogo. A grande quebra demográfica resultante destes acontecimentos provoca falta de mão-de-obra, abandono dos campos, baixa produtividade agrícola e subida dos preços; este clima de crise generalizada propicia a ocorrência de revoltas populares, rurais e urbanas, um pouco por toda a Europa. Ao nível das mentalidades e dos comportamentos colectivos, esta crise, e em particular a Peste Negra (que se pensava ser um castigo de Deus devido aos pecados dos Homens), instalaram um ambiente de incerteza, insegurança e angústia face à inevitabilidade da morte, reflectindo-se na vida espiritual através do reforço da religiosidade e devoção populares, caso das práticas colectivas de penitência, as chamadas procissões dos flagelantes; face à constatação da brevidade da vida, a crise suscitou também a exaltação dos bens materiais, estimulando o gosto pelo luxo e festividades. Também a cultura reflecte esta obsessão pela morte, nomeadamente, na literatura, a proliferação dos chamados Ars Moriendi [Arte de Morrer], ou seja, tratados que ensinavam a bem morrer; na música é muito divulgado o hino Dies Irae [A Ira de Deus], composto na 2.ª metade do século XIII, associado às missas dos defuntos; nas artes, a chamada arte macabra, na qual a morte de Cristo e a descida ao túmulo são temas constantes, além das xilogravuras que representam a morte armada de gadanha, o cadáver comido pelos vermes e as danças macabras, e na pintura a fresco o triunfo da morte sobre todos, independentemente do estatuto social de cada um. Também neste contexto se divulga o gosto pelos crucifixos e pietàs, além de transformações na escultura de monumentos funerários, a tumulária. Nos séculos XII e XIII vulgariza-se a construção de túmulos entre as grandes famílias régias, nobiliárquicas e clericais, nos quais o morto era identificado na arca tumular com os respectivos brasões e inscrições epigráficas; a partir do século XIII tornam-se comuns as estátuas jacentes, representando o morto reclinado sobre a arca tumular, cujo rosto é idealizado, com um leve sorriso de perfeição e serenidade testemunhando a esperança na vida eterna; no século XIV é visível a grande preocupação em esculpir com realismo as feições do morto enquanto vivo, para ser identificado como tal e perpetuada a sua memória, originando a procura da verosimilhança no retrato; a partir dos meados deste século, esta tendência e a reflexão sobre a morte, aliada ao progresso nos estudos anatómicos, conduz à representação do corpo mirrado do morto, envolto num lençol ou nu, como cadáver em decomposição, revelando a consciência da precaridade do corpo e da perenidade do espírito, além do gosto pelo mórbido.
Estes texto, escrito por um monge do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, reflecte o ambiente de crise que se vivia por toda a Europa no século XIV, sobretudo devido à fome e à deflagração de um forte surto de peste que dizimaram grande parte da população europeia, invertendo a tendência demográfica que vinha do século anterior.
"O ano de 1333 foi tão mau por todo o Portugal, que andou o alqueire de trigo a vinte e um soldos (...). E foi minguado o ano em todos os outros frutos de que as gentes se mantinham, e este ano morreram muitas gentes de fome, tantas como nunca os homens viram morrer por esta razão (...) e tantos foram os mortos sepultados que não cabiam nos adros das igrejas e os enterravam fora dos adros e deitavam-nos em covas quatro a quatro e seis a seis, assim que os encontravam mortos pelas ruas. (...) No ano de 1348 foi grande a mortandade pelo mundo, tendo morrido as duas partes das gentes. Esta mortandade durava na terra pelo espaço de três meses. E as maiores dores das doenças eram devido aos bubões que tinham nas virilhas e sob os braços."
Livro das Eras de Santa Cruz de Coimbra, ed. António Cruz, Anais, crónicas e memórias avulsas de Santa Cruz de Coimbra, Porto, Biblioteca Pública Municipal, 1968, pp. 69-88, adaptado.
* * *
A morte na literatura e na arte dos séculos XIV e XV
"Em nenhuma outra época como na do declínio da Idade Média se atribuiu tanto valor ao pensamento da morte. (...) A queixa sem fim da fragilidade de toda a glória terrena era cantada em várias melodias. Três motivos podem distinguir-se. O primeiro é expresso pela pergunta: onde estão agora aqueles que em dado momento encheram o mundo com o seu esplendor? O segundo motivo reside no horrível espectáculo da beleza humana caída na decrepitude. O terceiro é a dança da morte: a Parca arrastando os homens de todas as condições e idades. (...) A meditação ascética tinha, em todas as idades, insistido no pó e nos vermes. Os tratados do desprezo do mundo tinham, desde há muito, evocado os horrores da decomposição, mas foi somente nos fins do século XIV que a arte pictural, por seu turno, tomou conta do motivo. Para transmitir os horríveis pormenores da decomposição necessitava-se de uma força de expressão realista que só por volta de 1400 a escultura e a pintura atingiram. (...) Até bastante tarde no século XVI os túmulos são adornados com as imagens horríveis de um cadáver nu com mãos enclavinhadas e os pés hirtos, a boca aberta e as entranhas cheias de vermes. (...) Nos fins da Idade Média a visão total da morte pode ser resumida na palavra macabro, no significado que actualmente lhe damos. Este significado é sem dúvida o resultado de um longo processo. Mas o sentimento que ele encarna, algo horrível e funesto, é precisamente a concepção da morte que surgiu durante os últimos séculos da Idade Média. (...) Cerca do ano de 1400 a concepção da morte na arte e na literatura revestiu-se de uma forma espectral e fantástica. Um novo e vivo arrepio veio juntar-se ao primitivo horror da morte. A visão macabra surgiu das profundidades da estratificação psicológica do medo; o pensamento religioso imediatamente a reduziu a um meio de exortação moral. (...) A ideia da dança macabra é o ponto central de todo um grupo de concepções associadas. A prioridade pertence ao motivo de três mortos e três vivos que se encontra na literatura francesa do século XIII em diante. Três jovens nobres encontram subitamente três mortos que os horrorizam, lhes falam das passadas grandezas e os avisam de que o seu fim está próximo. A arte não tardou a tomar conta deste sugestivo tema. (...) Pintado em miniaturas e em gravuras de madeira, espalhou-se largamente. (...) O tema dos três mortos e três vivos liga o horrendo motivo da putrefacção com o da dança macabra. (...) Enquanto lembra aos espectadores a fragilidade e a vaidade das coisas terrenas, a dança da Morte ao mesmo tempo prega a igualdade social tal como era compreendida na Idade Média, a morte nivelando as várias categorias sociais e profissões. (...) O pensamento dominante, tal como se exprime na literatura, tanto eclesiástica como leiga, desse período, quase mais nada conheceu relativamente à morte do que estes dois extremos: a lamentação acerca da brevidade das glórias terrenas e o júbilo pela salvação da alma. Tudo o que entre esses extremos se encontra (...) ficou sem ser expresso e foi, por assim dizer, absorvido pela muitíssimo acentuada e demasiadamente vívida representação da morte horrenda e ameaçadora. Mas a emoção viva congela-se entre a abusiva representação dos esqueletos e dos vermes."
Johan Huizinga, O declínio da Idade Média, 2.ª ed., Lisboa, Editora Ulisseia, 1985, pp. 145-157.

15.11.05

10. Escultura gótica: a humanização do Céu


__ Estátuas-coluna das jambas representando personagens do Antigo Testamento, portal ocidental, Catedral de Chartres, cerca de 1155.

__ Catedral de Chartres, visão de conjunto da imagem anterior.

__ Catedral de Notre Dame de Paris, portal sul.

__ Catedral de Notre Dame de Paris, tímpano do portal central.

__ A ressurreição dos mortos, pormenor do tímpano do portal central de Notre Dame.

__ Catedral de Estrasburgo, estátuas de profetas bíblicos.
__ Abraão e Melquisedeque (personagens bíblicas), interior da fachada ocidental, Catedral de Reims, 2.ª metade do século XIII.
__ Pormenor do Anjo da Anunciação, portal da fachada ocidental, Catedral de Reims, cerca de 1225-1245.
__ A Virgem com o Menino, estátua de 1339, que pertenceu à Abadia de Saint Denis; Museu do Louvre, Paris.

A escultura gótica surge, numa primeira fase, intimamente associada à arquitectura das catedrais. No exterior do edifício são sobretudo as fachadas, principal e do transepto, nomeadamente os portais, os suportes para a implantação da escultura; à medida que se vão tornando mais complexas, também as empenas, rosáceas, tabernáculos dos arcobotantes e gárgulas das catedrais vão servir de suporte para a decoração escultórica. Quanto à estrutura do portal, ele é constituído pelo tímpano, arquivoltas, mainel e ombreiras ou jambas, substituídas por estátuas-coluna. No interior o trabalho escultórico é bem mais reduzido, e é sobretudo a partir do século XIV que a catedral passa a albergar mobiliário com relevo em talha (cadeirais do coro), estatuária devocional, altares e arcas tumulares. No seu conjunto, a escultura gótica pode ser agrupada em quatro tipologias: 1. estátuas-coluna, aplicada nas ombreiras do portal conferindo uma dimensão vertical ao pórtico, mas que progressivamente se vai autonomizando em relação ao seu suporte arquitectónico; 2. relevo escultórico, sobretudo no tímpano do portal; 3. escultura de vulto redondo, em especial estatuária de devoção, resultante da evolução das estátuas-coluna; 4. escultura funerária, ou seja, arcas tumulares e estátuas jacentes (que serão analisadas no post 11). Os temas mais comuns, sobretudo na fachada/portal, são os seguintes: - Cristo em Majestade, associado ao Tetramorfo; - Juízo Final; - Virgem em Majestade, Vida da Virgem e Nascimento de Cristo, um tema introduzido por influência da difusão do culto mariano desde os finais do século XII; - Episódios da vida dos santos patronos da respectiva igreja; associados a estes temas começa a ser mais comum a existência de relevos escultóricos e estatuária de carácter profano. Se a estátua-coluna e o relevo têm uma relação de dependência com o respectivo suporte arquitectónico, a partir do século XIV torna-se muito abundante a escultura de vulto redondo, estatuária de devoção associada às práticas da piedade individual e destinada a capelas ou oratórios privados; é sobretudo constituída por imagens da Virgem (Virgem com o Menino, Senhora do Ó ou Santas Mães, Pietà), de santos e crucifixos, e executada em materiais diversos, como a pedra, madeira, marfim, bronze, ouro e alabastro. Em termos de linguagem plástica, e no conjunto de toda a produção escultórica, podem ser defenidas três tendências principais: a) Idealismo (séculos XII-XIII), com figuras estilizadas e ausência de expressividade dos respectivos rostos (serenidade inexpressiva); hieratismo das estátuas-coluna: ausência de movimento, panejamentos rígidos acentuam a verticalidade, ausência de proporção anatómica; b) Naturalismo (2.ª metade do século XIII a meados do XIV), em que a estatuária ganha vida e movimento, com ancas pronunciadas e silhuetas em S para evidenciar dinamismo, acentua-se a expressão do rosto e surgem detalhes mais minuciosos no tratamento de cabelos e barbas, conferindo um carácter mais humano às personagens divinas representadas; c) Realismo (2.ª metade do século XIV e durante o século XV), época do triunfo da curva e contra-curva, ondulação excessiva, sobretudo no drapeamento, que acentua a expressividade das estátuas; preocupação absoluta de representação do real, que conduz à procura da verosimilhança no retrato; por influência da grande mortandade após 1348 e os progressos nos estudos anatómicos levam mesmo ao exagero de representar o corpo feito cadáver.
* * *
Sobre a escultura gótica
"Apesar de terem mantido muitos aspectos que caracterizaram a escultura românica, como, por exemplo, a continuidade de uma relação de grande cumplicidade com a arquitectura, os artistas dos sécs. XIII e XIV alargaram o seu repertório temático, utilizaram um maior número de suportes e receberam da parte dos encomendadores uma atitude mais aberta em relação ao seu trabalho. Relativamente ao período anterior, registou-se uma evolução, sobretudo, ao nível da composição, da expressividade, da monumentalidade das suas obras e da progressiva aproximação ao real. Deste modo, a escultura gótica estabeleceu uma aproximação gradual à cultura humanística (....), assumindo um carácter mais naturalista na representação do rosto, do corpo humano ou da natureza, desenvolvendo novas capacidades expressivas e autonomizando-se em relação à arquitectura. Tendo conquistado o seu próprio espaço, a escultura atingiu uma concepção mais plástica, mais dinâmica e «verdadeira». Uma das obras paradigmáticas desta renovação é a Morte da Virgem, do tímpano da Catedral de Estrasburgo. Aqui, a dificuldade de adaptação das figuras ao espaço arquitectónico, implicando nalguns casos a representação parcial das figuras, é compensada pela delicadeza com que os Apóstolos tocam o corpo da Virgem e pela emoção que se manifesta nos seus rostos. Também a forma como são tratados os cabelos e as pregas das roupas, evidenciando a anatomia dos corpos, é inovadora e faz-nos lembrar a arte clássica. Já a Anunciação e a Visitação esculpidas nas jambas do pórtico ocidental da Catedral de Reims (...) libertaram-se da arquitectura para se converterem em esculturas de vulto redondo, firmemente apoiadas no solo, continuando um caminho iniciado em Chartres. Privilegiando uma aproximação ao mundo físico, as pregas da roupa deixam transparecer as anatomias que cobrem e, especialmente na Visitação, o escultor parece dominar completamente o modelo clássico. Talvez a inovação mais significativa se relacione com a organização do portal do templo: as ombreiras, ou jambas, são substituídas por estátuas-coluna que se prolongam nas arquivoltas em torno do tímpano. A evolução dos temas e da iconografia, inspirada no Novo Testamento, continua sendo estabelecida por motivações de ordem religiosa - o Cristo em Majestade, o Juízo Final (com os Apóstolos distribuídos pelas ombreiras) e a Virgem em Majestade -, mas, de um modo geral, as figuras são humanizadas estabelecendo entre elas uma relação afectiva. A partir de meados do séc. XII, o santo patrono da igreja ocupa o tímpano numa mandorla e no centro de cenas da sua vida, ao qual se juntam todos os santos da diocese nas ombreiras, em estátuas-coluna. A escultura gótica caracterizou-se, sobretudo, pelo naturalismo das expressões e dos detalhes mais minuciosos e por uma representação mais próxima do real. Para além destas manifestações, surgem com grande impacto na produção escultórica as estátuas jacentes e os retratos funerários, o que se deveu fundamentalmente à proliferação de capelas privadas para albergar sepulcros de nobres, altos dignitários eclesiásticos e burgueses."
Paulo Simões Nunes, História da cultura e das artes, Lisboa, Lisboa Editora, 2005, p. 226.

8.11.05

9. Portugal: do gótico ao manuelino


__ Catedral de Évora

__ Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha

__ Igreja de Nossa Senhora da Graça, Santarém

__ Convento do Carmo, Lisboa.

__ Igreja matriz de Olivença (actualmente em Espanha), portal manuelino.

__ Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, pormenor da abóbada da igreja.

__ Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, pormenor de uma das alas do claustro.
Em Portugal, os elementos da nova arquitectura, a gótica, foram aparecendo pela ordem seguinte: - 1.ª metade do século XIII: lenta introdução do estilo gótico, casos do Mosteiro de Alcobaça e do claustro da Sé de Coimbra, provavelmente por construtores estrangeiros; - 2.ª metade do século XIII e século XIV: período de maior estabilidade no território português, devido ao fim da guerra com os muçulmanos e ao desenvolvimento económico e urbano que se faz sentir, suscitando grande número de construções, por iniciativa dos reis ou dos nobres, e mesmo a remodelação de muitas igrejas românicas; destacam-se a Sé de Évora e templos ou mosteiros e conventos em Coimbra, Santarém, Tomar e Lisboa, além de outros no Norte do país; - Séculos XIV e XV: a época do florescimento do gótico em Portugal, correspondendo ao projecto do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, a igreja de N.ª Sr.ª da Graça, em Santarém, as catedrais da Guarda e de Silves e o Convento de N.ª Sr.ª do Carmo, em Lisboa; - Séculos XV e XVI: o gótico final ou manuelino, uma arte feita de muitos estilos (elementos góticos, renascentistas e mouriscos), originando um sentido ornamental muito específico, com elementos de heráldica régia aliados a formas naturalistas (fauna e flora marítimas); na arquitectura: as estruturas góticas essenciais mantêm-se, mas agora aliadas a novos conceitos de espaço e iluminação com preferência por igrejas de naves todas à mesma altura ou por igrejas-salão; novos elementos formais, estruturais ou decorativos, sobretudo na diversidade de tipologias de arcos, abóbadas e portais; gosto por uma decoração abundante e exuberante, barroquista mesmo, associada à arquitectura, e cuja temática decorativa tem como base motivos naturalistas de influência marinha, vegetalista, animais fantásticos, simbologia ligada à expansão de Portugal(Descobrimentos) e à heráldica régia (a esfera armilar, a cruz de Cristo, o escudo régio), tendo assim um objectivo propagandístico do poder imperial do rei e do país. Tendo em conta esta evolução do gótico em Portugal, pode-se concluir o seguinte: 1. o seu desenvolvimento tardio e prolongamento, através do manuelino, até ao século XVI, devido a uma situação de guerra prolongada que consumia recursos humanos e financeiros (pelo menos até cerca de 1249, quando se dá a conquista definitiva do Algarve); consequentemente, o Norte do país permanece enraizado ao estilo românico, por ser um território de colonização cristã mais antiga, enquanto que no Centro e Sul de Portugal, espaço de mais recente ocupação e onde não havia tradição construtiva cristã, os edifícios tendem a ser construídos com o novo estilo, o gótico; 2. foi uma arte monástica e rural e não tanto episcopal e urbana, dado o rei ter investido nas ordens religiosas e nas ordens militares para colonizarem e promoverem o desenvolvimento económico do território, que implantam os seus templos sobretudo no Centro e Sul; em meio urbano destacam-se os conventos das ordens mendicantes, nos arrabaldes das cidades, e algumas, poucas, catedrais (Évora, Viseu, Guarda, Silves); 3. maior simplicidade em geral: edifícios de dimensões mais modestas e de verticalidade menos acentuada; estruturas planimétricas e volumétricas mais simples, aproveitando muitas vezes estruturas românicas pré-existentes, dada a escassez de financiamento; com janelas mais pequenas e em menor número; quase dispensa o uso de arcobotantes, predominando o contraforte românico adossado; decoração menos rica e exuberante, reduzida e elementos vegetalistas e sem figuração.