1. A Europa das cidades: do renascimento do século XII a meados de Quatrocentos
__ Mapa das principais cidades europeias da Idade Média; repare-se na grande concentração urbana em Itália, o centro do antigo Império Romano, e na região a norte de Paris.
__ Pintura a fresco de Ambrogio Lorenzetti, executada entre 1337 e 1340, no Palácio comunal de Siena, Itália. É um exemplo da intensa actividade de uma cidade medieval.
__ Pintura a fresco de Ambrogio Lorenzetti, executada entre 1337 e 1340, no Palácio comunal de Siena, Itália. É um exemplo da intensa actividade de uma cidade medieval.
A fragmentação politica da unidade imperial romana, a partir da segunda metade do século V, origina uma Europa dividida em vários reinos, dominados por chefes guerreiros de origem goda. Iniciava-se assim um período de profunda ruralização da vida económica, social e mesmo religiosa, pois os mosteiros estavam sobretudo localizados em meio rural e em locais naturalmente inóspitos. As cidades perdem a sua antiga importância e muitas das suas estruturas vão-se degradando. Este cenário inverte-se a partir da segunda metade do século XI, e consolida-se uma tendência contínua de crescimento ao longo do XII e XIII: a progressiva melhoria das condições climatéricas (aumento da temperatura), as campanhas de arroteamentos e as inovações técnicas proporcionam o aumento da produtividade agrícola e a consequente melhoria das condições de vida das populações; tanto o aumento demográfico como a existência de excedentes agrícolas levam à revitalização dos centros de comércio local e regional, e naturalmente das próprias cidades, criando-se assim as condições para o desenvolvimento de indústrias variadas, embora ainda de forma artesanal. A grande crise económica e demográfica iniciada nos começos do século XIV, que a deflagração da Peste Nega em 1348 veio agravar, não alterou, contudo, o crescimento em número e importância das cidades na dinâmica da Europa ocidental. E nesta época destacam-se, de facto, duas grandes áreas no contexto europeu, pela sua dinâmica económica e urbana: as cidades da Itália, no sul, e as da Flandres, a norte.
Jean Lelong, monge cronista do século XIV, explica como da afluência de uma população móvel junto das muralhas de um antigo burgo, se densenvolveu uma nova cidade, Bruges (situada na actual Bélgica):
"(...) para satisfazer as faltas e necessidades dos da fortaleza, começaram a afluir diante da porta, junto da saída do castelo, negociantes, ou seja, mercadores de artigos custosos, em seguida taberneiros, depois hospedeiros para a alimentação e albergue dos que mantinham negócios com o senhor, muitas vezes presente, e dos que construíam casas e preparavam albergarias para as pessoas que não eram admitidas no interior da praça. O seu dito era: «vamos à ponte». Os habitantes de tal maneira se agarraram ao local que em breve aí nasceu uma cidade importante que ainda hoje conserva o seu nome vulgar de ponte, porque brugghe significa ponte em linguagem vulgar."
Fernanda Espinosa, Antologia de textos históricos medievais, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1972, p. 199.
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